Do céu ao inferno em poucos segundos

A vida do apóstolo Pedro sempre me fascina.

Aliás, podemos até dizer que o “príncipe dos apóstolos” é ainda, dois mil anos, uma das figuras mais controvertidas e debatidas do cristianismo, haja vista sua estreita ligação teológica com a idéia de papado na Igreja Romana.

Mas não é sobre isso que quero meditar agora.

Quero pensar nesta capacidade do referido apóstolo em, às vezes, ir de um extremo ao outro, do sucesso ao fracasso, em um espaço tão curto de tempo.

Houve uma ocasião em que Jesus perguntou aos seus discípulos acerca de quem o povo achava que ele era .

E os discípulos, meio que em cima do muro, disseram: ”Alguns dizem que é João Batista; outros, Elias; e ainda há quem diga, Jeremias ou um dos profetas”.

Mas Jesus não queria saber o que os outros pensavam, mas pelo menos, o que os seus pensavam acerca dele, sendo que Pedro não pestanejou e respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”.

Talvez tenha havido silêncio no local. Talvez espanto. Fato e que tal confissão fez de Pedro o primeiro, o príncipe dos apóstolos. Por causa de tal declaração, homens foram declarados papas. Teólogos discutem até os dias de hoje tal declaração. Seria ela a Rocha de que Cristo falou depois? Seria o próprio Pedro a Rocha?

E o próprio Cristo lhe disse:

“Bem aventurado és tu, Simão, filho de Jonas! Pois não foi carne nem sangue que te revelou isso, mas sim meu Pai que está nos céus”.

E eis aqui a declaração que, segundo os católicos, fundamenta toda a doutrina da infabilidade papal.

Foi a Pedro que foi revelado, pelo próprio Pai nos céus que Jesus é o Cristo.

Ou seja, não foi carne, nem sangue; foi o próprio Pai, diretamente do céu.

E provavelmente, Pedro se sentiu no céu naquele momento.

E a ele, Jesus disse, seriam dadas as chaves do Reino dos céus.

Imaginem a cara dos outros discípulos. E imaginem o que Pedro sentiu naquele momento. “Eu sou o cara, mano! Mandei muito bem, modéstia a parte”!

Entretanto, Cristo começou a revelar coisas mais profundas. Afinal, agora os discípulos sabiam quem ele era.

Disse que teria que voltar para Jerusalém, e que iria sofrer muitas injustiças nas mãos dos anciãos, etc, e que finalmente, iria ser morto e depois ressuscitar.

Foi quando Pedro teve a grande idéia. Já tinha arrebentado uma vez, e agora, finalmente, iria arrebentar de novo.

Ele chamou Jesus de canto, e começou a admoestá-lo (isso mesmo, cabra ousado este, admoestar Jesus...), dizendo que tal coisa jamais iria lhe ocorrer.

“Arrebentei de novo”, pensou ele. O plano do mestre é péssimo, o meu é muito melhor.

Foi quando Jesus o repreendeu, dizendo: “Afasta de mim, Satanás, pois não cogita das coisas de Deus, mas sim das coisas dos homens”!

O plano de Deus não segue a mesma lógica dos humanos.

E Pedro, a Rocha, agora era Pedra de Tropeço.

De rocha à pedra de tropeço...

De bem aventurado à Satanás...

A lógica de Deus era a libertação pelo sofrimento.

A lógica de Satanás foi explorar o belo sentimento humano de proteção a quem se ama, revelando a sua sordidez em enganar os incautos.

A lógica do reino é outra, e é preciso discerni-la.

Nem sempre o que é logicamente humano, a proteção de um amigo, como no caso, é a lógica divina.

Mas Pedro disparou do céu para o inferno, em poucos momentos, pois não se atentou a isso.

A lógica do reino é a lógica da cruz, não a da segurança, e se não nos atentarmos a isso, também poderemos, em poucos minutos, mesmo após uma boa vitória, irmos do céu ao inferno, do sagrado ao profano, e sequer nos darmos conta disso, até que Cristo nos diga: “arreda, pois não cogita das coisas de Deus, mas sim das dos homens"...

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