Meritocracia - ter ou não ter, eis a questão
A discussão
acerca da meritocracia ser algo bom ou ruim voltou a bombar nas redes
sociais após a aprovação de uma jovem, negra, e humilde, em
primeiro lugar em um concurso
público neste país.
Pedindo ajuda ao Wikipédia, há o seguinte conceito para tal termo:
Meritocracia (do latim meritum,
"mérito" e do sufixo grego antigo κρατία (-cracía),
"poder")[1]é
um sistema de
gestão que considera o mérito como
a razão principal para se atingir posições de topo. Segundo a meritocracia, as posições
hierárquicas devem ser conquistadas com base no merecimento,
considerando valores como educação, moral e
aptidão específica para determinada atividade. Constitui-se numa forma ou
método de seleção e, num sentido mais amplo, pode ser considerada uma ideologia governativa.
A
meritocracia está associada, por exemplo, ao estado burocrático,
sendo a forma pela qual os funcionários
estatais são selecionados para seus postos de acordo com sua
capacidade (através de concursos,
por exemplo). Ou ainda – associação mais comum – aos exames de
ingresso ou avaliação nas escolas,
nos quais não há discriminação entre os alunos quanto ao
conteúdo das perguntas ou temas propostos. Assim, meritocracia também indica
posições ou colocações conseguidas por mérito pessoal.
Bom.
Me parece que estar em determinada posição, não por descendência sanguínea, nem
por casta, dinheiro, ou algo do tipo, mas sim pelo esforço
pessoal, parece algo lógico e necessário em uma sociedade não estamental e
democrática. Seria ruim saber que se perdeu uma chance por conta de alguém ser
parente do rei ou coisas do tipo... e tendo em vista a quantidade de cargos comissionados no Brasil, acho que precisamos de mais mérito, enfim...
Ocorre
que a dita menina tem um posicionamento mais à esquerda. E para esse grupo, o
termo meritocracia é um pecado, uma palavra sob anátema, por isso, ela logo veio
a público dizendo que não tem mérito. A esquerda bate na tecla de que
meritocracia é um conceito equivocado porque as pessoas não concorrem na
sociedade sob igualdade de condições.
De
certa forma, essa percepção não está equivocada. De fato, com melhores
condições para todos, é menos difícil concorrer (pensando na sociedade como um
todo).
De
qualquer modo, vamos pensar na situação dessa menina que passou em primeiro
lugar no concurso para medicina. Certamente, ela é tão socialmente humilde como
milhares iguais a ela. Ela também, muito provavelmente, e conforme depoimento,
estudou muito, e muito mais do que a imensa maioria das garotas em situações
similares à dela. Ela recebeu apoio para isso? Claro que recebeu, dos
familiares, amigos, professores (e, se eu não estiver enganado, mesmo por um
programa social da própria USP que lhe concede pontos extras a alunos que
sempre estudaram em colégios públicos e que tiveram uma nota mínima no
vestibular). Mas há muitos que recebem e não aproveitam. E não adianta receber
todo o apoio do mundo e não estudar. Portanto, em uma singela perspectiva
meritocrática, essa menina tem mérito, e muito mérito (no bom sentido, para não
escandalizar os mais sensíveis), pois superou em muito pessoas que saíram muito
a frente dela nessa corrida. Se quiser, podemos trocar pelo termo
"esforçocracia".
Portanto,
não se deve, creio eu, retirar a questão do mérito em si na sociedade, pois
isso seria fazer sucumbir a ideia de esforço pessoal. E ainda bem, penso eu,
que vivemos um sistema que, mesmo que de forma muito difícil, permite alguma
forma de mobilidade social. Por outro lado, também devemos nos movimentar no
sentido de melhorar as condições para que todos possam concorrer em um sentido
menos desigual. São conceitos que não precisam estar necessariamente
polarizados.
Agora,
só para terminar, é preciso perceber que aquilo que o povo da esquerda ataca chamando de meritocracia, e que é defendido pelos conservadores, não é o
conceito defendido por aqueles que preferem uma economia de mercado livre, mas
isso seria assunto para outro texto.
Comentários
Postar um comentário